sábado, 27 de março de 2010


E mais um dia passou por mim eternizando a dor desta saudade que habita o meu seio... A ausência da sua imagem gravada a fogo na minha memória, essa doce trotura que me afoga na ânsia de um reencontro...




Mas a noite chegam lenta, negra. Esconde o seu olhar argenteo atrás do véu negro da saudade, dos seus lábios um sussurro gelado percure as avenidas desertas. Impelido por uma estranha força, passeio junto ao espelho de água que recusa afugar a dor da saudade.




Perdido em mim procuro-a naquela imagem fugaz... Sinto o sabor do seu perfume invadir-me o nariz, enebriando-me, toldando os meus sentidos, envolvendo-me como um nevoeiro, uma doce carícia trocada a medo entre dois enamorados... Sinto no meu coração a leveza dos seus passos, a delicadeza dos seus modos, a candura dos seus lábios, o breve sussurrar da sua voz...



Os meus passos esquecidos da própria existência, levam-me por caminhos desconhecidos, afastado-me do lago, rumo em direcção ao coração negro da floresta vizinha do parque, ignoro todos os avisos ancestrais que as nossas mães nos faziam da floresta.
Naquele instante apenas eu e os meus pensamentos formavam o Cosmos, repartido por todos os universos paralelos, experimentava no mesmo instante todos os desvios quanticos, perdido em vielas num universo, encontrado num solar noutro...
Por alamedas de Castanheiros circulei, por vielas de bétulas passei, um ulmeiro fez uma vénia, e quando o trilho ficava cada vez mais denso e serrado bati numa faia. Ao longe, uma coruja brincava com o meu alheamento...
A noite passava por mim, desorientado, finalmente perdido de mim e do mundo... Ainda estaria entre os mortais? Ou teria atravesado os Portões de Asgard, e Odin e seu filho Thor aguardariam-me na Valhalla?
Ao fundo do meu olhar, finalmente uma luz... Na protecção da sombra de um colmo, dormia uma velha cabana fumegante... Pelas suas janelas fugia uma nevoa de luz que me guiava qual farol em noite de tempestade...
Rumo ao meu porto de abrigo bolinei, corri, voei... Havia reencontrado o centro do meu universo.
Bati à porta, e esta cedeu, soltou um ligeiro lamento, perdido no eco da noite, e atrás da porte, o espanto do meu espanto... A Dor que me assaltava o coração foi presa pela fulgor da saudade apanhada em flagrante pelo calor da paixão...
Diante de mim... Aguardava-me a ninfa pela qual o meu coração perecia às portes de Hades, qual Persephone resgatada aos sulfuros mundos, senti aquele seu perfume envolver-me uma vez mais, abraçar-me, levar-me a voar até ao éden e para além da vida, li naqueles seus olhos a eterna docura da ambrosia dos deuses.
Com um doce murmurar que ficou a pairar entre nós dois, disse-me: "Vinde, entrai..."
E o meu coração correu disparado para junto da lareira que se encontrava acessa... Correu cheio de júbilo e felicidade. Havia encontrado aquela por quem padecia, por quem sangrarra lágrimas silênciosas.
A noite estava gelada, sobre as protecção das árvores olvidava que a neve começara a cair e o seu branco manto contraponha-se ao negro da noite...
Voltei-me para lhe agradaceder... e olhei nos seus olhos, e até hoje, ainda sinto o seu olhar fixo em mim...
Aquele olhar....