sexta-feira, 28 de novembro de 2008


Mais uma vez o dia nascia e inundava de luz as trevas que fugiam para os esconsos ocultos. Mas enquanto aquela luz banhava o mundo que despertava, a minha alma estava alagada nas tortuosas névoas da mágoa, perdida sem rumo nas trevas que a envolviam e a moldavam.

Mas como poderia estar a minha alma torturada por uma fragrância efémera, por um mero vislumbre de alma que durou parcos instantes? No meu intimo estava confuso, baralho, perplexo... Como alguém que eu não conhecia, que apenas vira por breves instantes me conseguira prender? E como a sua falta abalava a estrutura do meu mundo, do meu existir? Ao ponto de a sua ausência despoletar no meu seio uma mágoa capaz de abarcar do Universo, e de destruir qualquer reste de luz que habitasse o meu ser, arrastando-a, sem qualquer piedade, para as trevas negras desta mágoa que me prende.


Sinto esta dor que invade minha alma, a dor afasta-me deste local, mas algo que vai além das minhas forças e da minha me alma prende-me aqui, àquele banco de jardim, àquele lago, àquela imagem. Sinto que não devo voltar... Não quero voltar. Mas sei que voltarei... noite após noite, ansiando a cada instante o leve restolhar das folhas sobre o peso das suas pegadas... Vibrando a cada movimento daquele espectro. Sei que serei seduzido eternamente por aquele momento... E apesar da dor, da revolta que não compreendo eu voltarei...

Afastei-me placidamente, desaguando nas ruas desertas que me oprimiam com o seu silêncio, apesar do tumulto que reinava no interior, o mundo jazia adormecido... Regressei a casa imerso naquele silêncio. Parecia que tudo o que era vivo tinha desaparecido do mundo, apenas o silêncio restava... Apenas o vazio da minha alma ficou...

Até a casa estava imersa nessa solidão que invadia cada célula do meu ser... Cai sobre a cama... E adormeci cansado. Abandonei o meu corpo ao doce embalo do sono, e não sonhei, o tempo passou por mim com um ledo feitiço... Não sei quanto tempo passou, mas senti que passaram séculos...

Pois quando acordei, sentia em mim uma força viva, que já anos me havia abandonado... Sentia-me vivo, como se cada célula do meu ser estivesse esquecida da dor da noite anterior e renascido a cada instante...

Deitado sobre a cama... Acordado lentamente, sentia o calor da vida voltar a entrar no meu ser... Senti o doce toque da luz o sol a entrar pela a janela e queimar a minha pele...

Eis-me perdido neste saborear do despertar dos sentidos, quando sinto um calor a aflorar-me os lábios, e sinto o doce néctar de outros lábios comprimirem-se contra os meus...

E despertei...

sexta-feira, 18 de abril de 2008


Ansiava a cada instante o regresso daquela imagem que ficou gravada no meu intimo...

A noite vinha descalça... Mansa e leda pela calçada da via láctea... Chegando serena com o seu manto escuro...

E eu aqui sentado ansiado o brilho daqueles olhos, ignorando a brilho celestial que bailava no firmamento negro...

A cada instante que passava... A cada queda de folha... Palpitava o meu coração, ansiando por aquela que eu não conhecia... por quem o meu coração chamava...

Maldita chama que se acendeu no meu ser... Que insano sentir que me ateia as veias e me molda o pensamento... Ainda ontem vagueava nas ondas do descontentamento... Sentido que a minha vida não tinha rumo, nem qualquer sentido. E hoje? Qual a importância disso tudo? Nada... Apenas anseio aquele instante...

Aquele instante em que sinto o brilho do seu olhar... A sua luz a orientar os meus passos no nevoeiro em que vivo, afastando as brumas que se precipitam sobre o meu sentir...

Mas o tempo passa... E o vazio que beija o lago instala-se no meu coração... E com o nascer do sol morre a minha esperança... A noite passou do brilho do seu olhar apenas ficou a recordação da sua memória... Gravada nessa vã esperança que morreu com o nascer do dia...

A cada passo que me afasto o meu coração fica cada vez mais pesado... Não sei se mais algum dia voltarei aquele banco de jardim...

Agora só há espaço para a mágoa que se instalou no meu coração...

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008


Fiquei ali sentado, perdido nas recordações daquele efémero instante... Ah! como é esta chama que arde no meu interior. O seu calor tolda cada um dos membros... Sinto cada célula do meu universo explodir em êxtase...

O dia nascia, e com ele um novo ego renascia na consciência de si próprio... A dor que moldava o meu intimo desfez-se na poeira astral desta fénix...

Renasci de novo para a vida, todos o que me rodeava transbordava de uma vivacidade acrescida. Embarquei ao anoitecer na barcaça da dor, embalado pelo seu cálido murmurar adormeci e acordei com o despertar da aurora deste sentir que me queima o peito e me tolda o sentimento...

Ali fiquei em contemplação olhando a minha imagem reflectida no espelho aquoso, reflectindo o fogo que ardia no céu, espelho do meu coração... Sonhando acordado nesse nevoeiro que se entranhou no meu sentir, que me tornou torpe e cego...

Nada mais existia do que aquele olhar, aqueles lábios doces e frágeis, aquele efémero momento em que o brilho do seu viver que cegou...

O dia passou, nada mais existiu do que aquela saudosa memória... A noite chegou mais uma vez, suave, feita de veludo negro cobrindo o dia, ocultando o brilho do sol, relevando o brilho das pérolas distantes...

Todo o dia passei manietado, tal como uma marioneta, por aquela ideia, toldando o meu juízo qual espírito de algum vinho amadurecido pelo tempo... Ansiava ver aquele rosto, sentir o seu respirar do outro lado do lago... talvez falar-lhe... talvez ela venha... Virá? Existirá? Terei sonhado? Terei Acordado? Ansiava a cada instante por sentir o seu peso na folhagem morta do outro lado, o lânguido valido na outra margem...

Esperava na noite fria, aquecido pelo fogo do seu olhar reflectido no meu sentir.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

À medida que aquela luz se aproximava crescia um vulto alvo que se imponha à negritude da luz, e em mim despontava a curiosidade...

Saída das sombras a sua imagem incendiou as calmas águas do lago. Ainda hoje recordo o seu doce olhar, terno e meigo... O gentil modo de caminhar... Como quem danças flutuando... Preso a cada passo seu navegava no doce do seu olhar, duas candeias que iluminavam cada passo seu...

Ainda hoje recordo com saudade o seu doce rosto, esculpido da mais casta cera, cada traço do seu rosto, cada sinal, cada marca gravado para sempre no meu coração, no meu ser.

Passeava junto ao lago, despercebida do meu olhar ávido, ansioso da sua atenção... Desejoso do seu olhar...

Não percebia o que me estava a suceder... O meu coração parecia saltar do meu peito... Suores frios trespassavam a minha alma, que impávida congelou... Naquele momento e lugar... Nada mais existia... Nada mais ouvia senão o murmurar daquele silêncio reflectido no espelho da lua. Nada sentia se não o doce resfolgar dos seus passos das folhas mortas.

Fiquem assim durante segundo que me pareceram horas, minutos que se arrastaram como séculos...

Ignorando a minha presença dançou à beira lago, perturbou com a sua alma o doce dormir do lago. Olhou para o fundo da lua procurando descobrir os seus segredos íntimos. Contemplando aquele espelho, soltou leves pérolas que fugiam do seu olhar, doces opalas que soltando o seu brilho iluminaram a negritude da noite, reflectido o brilho do seu olhar...

Voltou-se lentamente... e desapareceu na noite que morria nos braços do nevoeiro que caia das fragas celestiais...

Apenas ficou a recordação do seu olhar... Gravada na etérea eternidade da minha alma...



Como tudo começou?.... Já vejo aqueles factos turbos pelas brumas do tempo, perdidas da espiral da memória, perdidas num passado distante...

Olho para o meu reflexo nas margens deste rio... Revejo-me anos mais novo. Ah! Como ardia o sangue nas minhas veias, a frescura da juventude que vivia...

Ainda tenho a sua imagem gravada no meu coração, nunca mais esquecerei o seu semblante a surgir na negritude da noite, envolta na névoa do luar.


A lua gélida iluminava o ar que inalava o perfume daquela ninfa que deslizava diante dos meus olhos hipnotizados pelo luar dos dela.

Tinha saído de casa, não aguentava mais o ar forçado daquela sala... O sangue pulsava do meu intimo... Queria aventura... Descobrir novos mundos, abrir portas, saltar abismos... Mudar o mundo...

Quem diria que o único mundo que iria mudar era o meu... Que o único abismo que me separava do mundo era eu mesmo....

Perdido pelas ruas desertas, com o uivo do vento a fugir das garras das árvores que o tentavam deter, encontrei aquele jardim deserto, perdido no meio das alamedas da minha vida.

Tantas vezes percorri aquelas passagens, envolto em neblinas que me toldavam a mente e os sentidos... Perdido do meu ego olvidava aquele éden terreno!

Naquele dia, com o universo por conquistar, parti sem rumo para me encontrar naquele lago que iria mudar a minha vida, que iria despertar em mim emoções que julgava não existir...

Encontrei um velho banco gasto pelo peso das horas passadas em contemplação, sentei-me olhando o espelho lunar... Aquele disco enigmático que me seduzia e me prendia. Ao longe uma coruja cantava doces melodias de embalar, embalando o meu sentir...

Ao longe vislumbre uma nesga de luz, um efémero momento, no pano negro que se estendia para além do meu sentir vi aquela luz cambaleante... E senti que não estava só...

E a minha alma pela primeira vez sorriu...

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008


O Dia nascia ledo e calmo... Uma neblina ligeira dormia no ar, embalando as gotas de orvalho que dormiam no braços da manhã. A luz incendiava de vida os campos desertos. Apenas a minha alma se mantém negra como a noite que morre...

A alegria que eu vivi esvaia-se a cada segundo... A dor acutilante amadurece
no meu seio, devora todo o meu amor... Tudo o que toco transforma-se em poeira.. Poeira solta, esvoaçando pelo sopro do passado, que foge de mim e se perde nos confins da dor...

Caminho desconhecido por aqueles campos que me viram nascer, e morrer... Quem sou? Já não sei...? Solitário caminho por este carreiro esquecido...

Sento-me à beira deste regato borbulhante... Quem me dera ser apenas mais umas das folhas perdidas na sua alva espuma, que levado pelos seus braços me perdesse no vasto oceano...

Fossem as minhas recordações barcaças afundadas nesse oceano perdidas nesse azul imenso, esquecidas de mim... Mas não!!! Insistem em me perseguir... Em me torturar com a sua existência...

Vinde.... Vinde e ouvi... Mais uma vez... A última vez irei recordar... Vinde e viajai comigo pela penumbra de uma vida, pela luz do amor que gerou, e pela dor que a matou...

Vinde...