terça-feira, 29 de janeiro de 2008

À medida que aquela luz se aproximava crescia um vulto alvo que se imponha à negritude da luz, e em mim despontava a curiosidade...

Saída das sombras a sua imagem incendiou as calmas águas do lago. Ainda hoje recordo o seu doce olhar, terno e meigo... O gentil modo de caminhar... Como quem danças flutuando... Preso a cada passo seu navegava no doce do seu olhar, duas candeias que iluminavam cada passo seu...

Ainda hoje recordo com saudade o seu doce rosto, esculpido da mais casta cera, cada traço do seu rosto, cada sinal, cada marca gravado para sempre no meu coração, no meu ser.

Passeava junto ao lago, despercebida do meu olhar ávido, ansioso da sua atenção... Desejoso do seu olhar...

Não percebia o que me estava a suceder... O meu coração parecia saltar do meu peito... Suores frios trespassavam a minha alma, que impávida congelou... Naquele momento e lugar... Nada mais existia... Nada mais ouvia senão o murmurar daquele silêncio reflectido no espelho da lua. Nada sentia se não o doce resfolgar dos seus passos das folhas mortas.

Fiquem assim durante segundo que me pareceram horas, minutos que se arrastaram como séculos...

Ignorando a minha presença dançou à beira lago, perturbou com a sua alma o doce dormir do lago. Olhou para o fundo da lua procurando descobrir os seus segredos íntimos. Contemplando aquele espelho, soltou leves pérolas que fugiam do seu olhar, doces opalas que soltando o seu brilho iluminaram a negritude da noite, reflectido o brilho do seu olhar...

Voltou-se lentamente... e desapareceu na noite que morria nos braços do nevoeiro que caia das fragas celestiais...

Apenas ficou a recordação do seu olhar... Gravada na etérea eternidade da minha alma...



Como tudo começou?.... Já vejo aqueles factos turbos pelas brumas do tempo, perdidas da espiral da memória, perdidas num passado distante...

Olho para o meu reflexo nas margens deste rio... Revejo-me anos mais novo. Ah! Como ardia o sangue nas minhas veias, a frescura da juventude que vivia...

Ainda tenho a sua imagem gravada no meu coração, nunca mais esquecerei o seu semblante a surgir na negritude da noite, envolta na névoa do luar.


A lua gélida iluminava o ar que inalava o perfume daquela ninfa que deslizava diante dos meus olhos hipnotizados pelo luar dos dela.

Tinha saído de casa, não aguentava mais o ar forçado daquela sala... O sangue pulsava do meu intimo... Queria aventura... Descobrir novos mundos, abrir portas, saltar abismos... Mudar o mundo...

Quem diria que o único mundo que iria mudar era o meu... Que o único abismo que me separava do mundo era eu mesmo....

Perdido pelas ruas desertas, com o uivo do vento a fugir das garras das árvores que o tentavam deter, encontrei aquele jardim deserto, perdido no meio das alamedas da minha vida.

Tantas vezes percorri aquelas passagens, envolto em neblinas que me toldavam a mente e os sentidos... Perdido do meu ego olvidava aquele éden terreno!

Naquele dia, com o universo por conquistar, parti sem rumo para me encontrar naquele lago que iria mudar a minha vida, que iria despertar em mim emoções que julgava não existir...

Encontrei um velho banco gasto pelo peso das horas passadas em contemplação, sentei-me olhando o espelho lunar... Aquele disco enigmático que me seduzia e me prendia. Ao longe uma coruja cantava doces melodias de embalar, embalando o meu sentir...

Ao longe vislumbre uma nesga de luz, um efémero momento, no pano negro que se estendia para além do meu sentir vi aquela luz cambaleante... E senti que não estava só...

E a minha alma pela primeira vez sorriu...

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008


O Dia nascia ledo e calmo... Uma neblina ligeira dormia no ar, embalando as gotas de orvalho que dormiam no braços da manhã. A luz incendiava de vida os campos desertos. Apenas a minha alma se mantém negra como a noite que morre...

A alegria que eu vivi esvaia-se a cada segundo... A dor acutilante amadurece
no meu seio, devora todo o meu amor... Tudo o que toco transforma-se em poeira.. Poeira solta, esvoaçando pelo sopro do passado, que foge de mim e se perde nos confins da dor...

Caminho desconhecido por aqueles campos que me viram nascer, e morrer... Quem sou? Já não sei...? Solitário caminho por este carreiro esquecido...

Sento-me à beira deste regato borbulhante... Quem me dera ser apenas mais umas das folhas perdidas na sua alva espuma, que levado pelos seus braços me perdesse no vasto oceano...

Fossem as minhas recordações barcaças afundadas nesse oceano perdidas nesse azul imenso, esquecidas de mim... Mas não!!! Insistem em me perseguir... Em me torturar com a sua existência...

Vinde.... Vinde e ouvi... Mais uma vez... A última vez irei recordar... Vinde e viajai comigo pela penumbra de uma vida, pela luz do amor que gerou, e pela dor que a matou...

Vinde...